CRÔNICA CARIOCA ( 6 )

 
 
                       A  HIPOCRISIA  DOS  DITOS  ERUDITOS

 

            Por que o ser humano tem que ser hipócrita?

            Será uma condição “sine  qua  non”, para sobreviver?

            Será por covardia?

            Será por comodismo?

            Será por falta de conhecimento em determinados temas?

            Será para ficar bem com a sociedade?

            A sociedade é hipócrita!

            Como pode a maioria das pessoas dizer que Cauby Peixoto, Milton Nascimento e Elis Regina são os maiores intérpretes da música popular brasileira de todos os tempos?

            Outros, metidos a eruditos, falam maravilhas sobre os compositores clássicos alemães.

            Isso é uma grande hipocrisia ou falta total de conhecimento sobre o assunto, ou ainda, falta de sensibilidade auditiva e sentimento musical, ou seja, “feeling”.

            Não existe o maior cantor ou cantora de todos os tempos, em lugar nenhum do planeta.

            Não existe compositor clássico, cuja obra seja audível na sua totalidade. Grande parte dessas obras são monótonas e, às vezes, dissonantes, sem linha melódica, divagando no tempo e no espaço, não transmitindo nada pra ninguém.

            Quando um “entendido” no assunto diz que fulano, sicrano ou beltrano são os maiores cantores de todos os tempos, ou que são compositores completos e melhores da história da música clássica, deveria ser perguntado a ele, se ele possui toda a discografia daquele cantor ou cantora, ou, ainda, se possui toda a obra daquele compositor erudito.

            A resposta do entendido no assunto teria que ser comprovada. Garanto que ele não possui toda a obra de ninguém. É pura hipocrisia.

            O que pode ser dito por qualquer pessoa, mesmo sendo leiga como eu, é que existiram bons intérpretes de canções em determinadas épocas ou que todos os compositores clássicos possuem obras com determinados trechos ou árias com uma linha melódica de qualidade.

            Na década de quarenta, existia o Rei-da-Voz, que morreu tragicamente em desastre de automóvel na Rio-São Paulo. A voz do nosso Rei daquela época, até na sua intimidade do lar, era “Perpétua”.

            Um    comerciante   de  visão  perpetuou   a  sua    memória    em    loja   de 

eletrodomésticos e ganhou muito dinheiro com isso. Tanto, que deu para fazer de seus herdeiros, um político e um promotor de eventos bem sucedidos.

            Esse promotor de eventos conseguiu trazer para o Maracanã uma das maiores vozes masculinas de todos os tempos.

            Quando se fala em voz masculina mundial com qualidade musical, pensa-se, imediatamente, nos grandes tenores italianos e espanhóis. Mas, por ironia, ele era italiano, porém, barítono. Foi realmente um fenômeno da natureza.

             Um político de renome, que foi cassado, batizou de “Divina” uma grande intérprete da nossa música, que encantou seus fãs por um bom período.

            Um grande maestro brasileiro do “Projeto Aquarius” declarou que, uma das vozes masculinas mais afinadas que conheceu, pertencia à bossa-nova.

            Um professor de matemática se tornou um dos maiores compositores e cantores de música romântica brasileira, inclusive era amigo de uma das grandes personalidades femininas do mundo encantado da canção, que pôs termo à vida, provavelmente, por não ter encontrado alguém que a compreendesse. Suas composições falam de sua vida atormentada.

            Havia uma “Gata-Mansa”, que foi “crooner” da orquestra do Bob Fleming, que possuía um timbre de voz diferenciado. Ao ouvi-la, tinha-se a impressão de que se estava fazendo uma “Viagem”.

            Bob Fleming era brasileiro e um grande instrumentista. Sua “ferramenta” era o sax-tenor. Tinha que usar esse pseudônimo para vender seus discos com mais facilidade, em um mercado hipócrita.

            Uma outra intérprete ficou famosa, cantando temas musicais que mais pareciam com a sua história familiar na alta sociedade da época. O seu mundo de fantasias caiu. Indo para Maricá, bateu com o carro na mureta da Ponte Rio-Niterói e morreu.

            Tragicamente, desapareceu em desastre de avião na França, uma das vozes masculinas mais perfeitas e completas do planeta. Comparável a todos os bons intérpretes mundiais daquela época.

            Hoje, para reverenciá-lo, temos que cantar uma “Balada Triste” em uma “Manhã de Carnaval”.

            Como podia um gago interpretar tão bem alguns compositores? Um deles, tinha em casa uma voz feminina consagrada como sua mulher e outra masculina, como seu filho.

            Quem não se lembra do “Caboclinho-Querido”? Ele encarnou o espírito da seresta.

            E não havia quem cantasse valsas de uma forma melhor do que “O cantor que dispensava adjetivos”. Era uma verdadeira “Fascinação”.

            O “Cantor - das - Multidões” era agredido pelas fãs, em uma época que não havia tanta violência, para que pedaços de suas vestes fossem guardadas como troféus.

            Mais recentemente, apareceu um cantor e compositor que, de tão bom, fez de um poema de uma grande poetisa, uma linda canção em estilo nordestino.

            E por falar em nordestino, temos o segundo “Hino Nacional Brasileiro”. Mas é preciso conversar com a “Lua”, para ser sensibilizado por ele.

            Abro um espaço importante para registrar o falecimento, recentemente, de um dos maiores instrumentistas brasileiros. Sivuca.

            O Brasil musical ficou mais pobre.

            Temos, ainda, um novo “Rei” para a canção.

            Indiscutivelmente, ele conseguiu sensibilizar algumas gerações com a sua música romântica.

            É lamentável que ele não use o seu carisma para orientar o público carente, que o adora, para lutar por um lugar ao sol. Ele reina absoluto, alheio a tudo que se passa na sociedade. Não se preocupa em saber se o povo está bem ou mal. Nunca expressou em público uma opinião sobre a situação do País. Tenho a impressão de que não saberia. “É isso aí, bicho!”

            Temos um outro grande compositor, que teima em cantar as suas próprias canções, porém com uma voz medíocre.

            Este, está atento a tudo que se passa na sociedade, inclusive já foi exilado por isso.

            Em um País subdesenvolvido como o nosso, onde o analfabetismo grassa, é muito importante que as celebridades cultas, que são minoria, expressem suas opiniões políticas de todos os gêneros, usando apenas um mínimo de hipocrisia, para que os incultos possam assimilar essas informações e deduzirem o que é bom ou mau para eles. Basta que usem a intuição, que é um bem genético derivado do intelecto, próprio dos seres humanos em geral. Um povo pode ser inculto por várias razões, mas pode ser inteligente.

            É muito importante que a inteligência e a sabedoria do povo sejam aproveitadas e desenvolvidas, para se criar uma condição de vida de melhor qualidade. Alguns ditos eruditos dizem que democracia, em sua essência, se faz assim.

            Se a população tivesse um conhecimento maior sobre música de qualidade, divulgado pelos meios de comunicação de massa, não haveria espaço para “coisas” ruins como o “Funk” ou sei lá qual nome é.

            Os jovens de hoje, por falta de informação adequada, se deixam levar pelo erotismo, exibicionismo e vaidade, principalmente as mulheres, usando essas “coisas barulhentas” para mostrarem, em público, os seus belos corpos, com movimentos sensuais e até mesmo eróticos.

            Essas exibições deveriam ser feitas apenas entre quatro paredes, junto ao seu parceiro mais chegado. Dessa forma, o sexo não se tornaria vulgar, fácil de ser praticado, principalmente se os jovens estiverem sob o efeito de algum tóxico alucinógeno, que é distribuído com facilidade nesses eventos de baixo nível.

            Quando essas jovens estiverem com mais de trinta anos, o mal já será irreversível.          Terão três ou quatro filhos, estarão com excesso de peso, sem os “maridos” e a maioria viciada em algum tipo de tóxico, com sua saúde debilitada em função disso. Seus pais já estarão velhos, aposentados e sem dinheiro para sustentarem os netos. Com celular e celulite, ligarão a cobrar para alguém,  pedindo ajuda que não virá.  Vão tentando criar seus filhos inoportunos, originários dessas festas de baixo nível comportamental e musical.

            Os filhos que sobreviverem vão fazer tudo aquilo que suas mães fizeram e assim, o ciclo vai se fechando, sucessivamente.

            Aonde tudo isso vai chegar eu não sei, porém, posso afirmar que estão no caminho certo para atingirem o mais alto grau de degradação humana.

            Será que tudo isso poderia ser evitado apenas com a educação musical? Claro que não. Seria muita pretensão.      Mas, certamente, seria uma pequena ajuda para se tentar chegar a um resultado satisfatório.

            Existem muitos outros fatores importantes, que concorrem para isso, inclusive os de natureza de educação geral, sem falar nos fatores econômico, financeiro, profissional e familiar.

            Quando um divulgador inescrupuloso lança na mídia uma informação musical falsa ou sem qualidade, provoca um mal irreparável, com “efeito dominó”, junto ao povo inculto. Chega a ser covardia o que fazem com os jovens, em troca de alguma vantagem ilícita, organizando esses eventos de baixo nível.

            Posso citar, como exemplos de vantagens ilícitas, o dinheiro obtido na venda de tóxicos, a exploração sexual e a obtenção de cargos políticos através de votos direcionados à alguém, usando-se a indução por dependência aos tóxicos. Essa dependência facilita tudo. É uma verdadeira lavagem cerebral.

            Dessa forma, consegue-se obter o poder total sobre os jovens de uma geração inteira.

            Um diplomata patrício, que sabia disso tudo, fez a sua parte benéfica para com a sociedade. Juntou-se a um “Brasileiro” e compuseram músicas de qualidade, por um bom período.

            Enquanto eu escrevia sobre música popular brasileira, ouvia música clássica. Isso prova que, na verdade, só existem dois tipos de música: a boa e a ruim.

            Por que os ditos eruditos dizem que gostam de tudo que é música clássica?

            É uma deslavada mentira!

            Beethoven escreveu poucas músicas boas de serem ouvidas, assim como Mozart e, principalmente, Wagner, que só os nazistas gostavam de tudo que era dele. A música de Wagner é tão agressiva, que os americanos, na Guerra do Vietnam, usavam alto-falantes presos nos helicópteros de ataque, propagando bem alto, para amedrontarem os “vietcongs”, o som da “Cavalgada das Valquírias”.

            Por que toda apresentação de orquestra sinfônica brasileira tem que ter na programação algum trabalho de Villa Lobos? Ou de Carlos Gomes? Um, fez o “Trenzinho Caipira” e as “Bachianas”. O outro, fez “O escravo” e “O Guarani”. Aliás, “O Guarani” toca todo dia na “Hora-do-Brasil”, que é a hora de se desligar o rádio.

            Todos os considerados grandes compositores, inclusive os nossos, compuseram alguma coisa boa de ser ouvida e vários trechos ou árias ruins, monótonas ou dissonantes.

            Música, qualquer tipo que seja, tem que ter linha melódica e harmônica, para que os nossos ouvidos não sejam agredidos.

            Existem várias árias de óperas sensacionais, porém, uma ópera completa,  é muito difícil de ser ouvida. Tem gente que chega a dormir na plateia e só acorda quando “os canhões dos portugueses começam a disparar contra os Guaranis”.

            A única ópera que consigo ouvir quase que completamente é a “Carmen” de Bizet, porém, o trecho de ópera que me emociona até às lágrimas é “E lucevam le stelle” de “Tosca” de Puccini.

            Só existem dois compositores clássicos, dos quais consigo ouvir quase toda a obra e me transporto para um mundo inexistente. Tchaikovsky e Chopin. Um era russo e o outro polonês. A maioria das pessoas falam erradamente o nome do polonês, como se ele fosse francês.

            Grande parte da obra de um e de outro é espetacular.

            Fizeram poucos trechos monótonos e dissonantes. A grande maioria é muito vibrante, emocionante, harmônico e romântico.

            O dito erudito deveria ser sincero, quando aparecesse  na mídia e não somente em frente ao seu espelho.

            Não deveria usar de hipocrisia como defesa, pelo seu medo em dizer a verdade, ou por ignorância no assunto.

 

                                   Crônica Carioca (06)         ------------         “By” Vic Dório

                                                                vicdoriosantos@gmail.com