CRÔNICA CARIOCA ( 5 )
VISTA MARAVILHOSA
Ontem, passei o dia inteiro debruçado na janela do último andar do Copa, de frente para o mar.
Pude observar a passagem do tempo, trazendo o progresso.
Pela manhã, olhei à distância e pude ver a beleza da praia de Copacabana.
Suas areias brancas, tão finas que o vento podia carregar, sendo banhadas por um mar transparente de cor verde esmeralda.
Algumas pessoas aproveitavam aquele lindo lugar para praticarem exercícios físicos ou caminharem à beira-mar. Outras, para simplesmente ficarem ouvindo o som das ondas.
Não consegui ver nenhum policial, não era necessário, apenas o salva-vidas.
Vi a Avenida Atlântica somente com uma pista, onde passavam alguns carrões americanos conversíveis.
À noite, pude observar a calçada estreita e iluminada com lampiões bem espaçados, que propiciavam aos casais de namorados um lugar ideal para passear.
Olhando à direita, pude ver toda a extensão da calçada, fazendo um semicírculo até o posto seis, parecendo um colar de diamantes.
Para a esquerda, vi a esquina da Princesa Izabel, onde funcionava um posto de gasolina que tinha uma “boite” muito badalada na parte superior; o Fred’s
Vi, também, um casarão em estilo europeu, onde funcionava um bar muito famoso; o Alpino.
Consegui ver até o paredão do Leme.
Hoje, de volta à mesma janela, o que vi não me agradou.
Pela manhã, olhando em frente, vi um mar turvo, com cor de caldo-de- cana devido à grande poluição, inclusive com uma espuma amarelada com alta concentração de coliformes fecais, ou seja, “merde” em francês.
Vi uma areia grossa e multicolorida, que veio do fundo da Baía de Guanabara e que não combina com as areias de Copacabana.
Vi pedras e grumos de concreto de todos os tamanhos, originários das obras da Orla Rio, misturados nas areias de cor cinza escuro, devido à presença de cimento, próximos à calçada.
Vi grandes aglomerados de “merde”, causados pelos eventos absurdos que são realizados nas areias de Copacabana com a conivência da Prefeitura do Município, para pessoas que não moram no bairro e que não pagam um IPTU tão caro ou até mesmo nenhum. A permissão dada pela Prefeitura é fruto de pura demagogia.
Essas pessoas vêm e vão e deixam as suas marcas nas ruas transversais, que ficam cheirando a “urine et merde” até a próxima chuva forte.
Esses eventos deveriam ser realizados em lugares mais apropriados, tais como: o Sambódromo, o Rio Centro e o Maracananzinho, ou então, lá na ... Como é mesmo o nome daquele lugar?
Praia não foi feita por Deus para servir de esgoto sanitário, nem de área de lazer para toxicômanos satisfazerem os seus vícios.
Pude ver “meninos-de-rua” fazendo arrastão nas areias, causando pânico entre os turistas.
Não consegui ver nenhum policial no local, embora, hoje, seja muito importante a sua presença.
Agora à noite, vejo prostitutas fazendo “trotoir” no calçadão e mendigos aglomerados pelas esquinas da Rodolfo Dantas e Fernando Mendes.
Olho para a direita e vejo uma vizinha escandalosa e inconveniente, porém rica, que, por essa razão, toda a sociedade atura.
Olhando para a esquerda, vejo um grande “espigão francês”, encobrindo tudo.
Não dá para ver nem o que sobrou do velho casarão europeu. Com certeza, existe outro espigão no local.
Desanimado, começo a pensar:
O que é preferível ser?
Elitista ou hipócrita?
Por que a sociedade esclarecida não clama por mudanças?
Porque é hipócrita e covarde.
É brasileira.
Sente e sofre as diferenças sociais, mas como bom cabrito, não berra.
Aceita tudo que os Governantes fazem, ou melhor, não fazem.
Chega ao ponto de usar a mídia para expressar sua opinião mentirosa, escondendo com vergonha a realidade dos seus pensamentos.
Não sou elitista, sou realista.
O realista não pode ser hipócrita.
E, por acaso, sou brasileiro, carioca-da-gema, que é uma raça em extinção.
Ainda na janela do Copa, penso no amanhã.
O que verei?
Não verei.
O mais interessante, nisso tudo que foi dito, é que nunca pude me hospedar no Copa. Sou professor aposentado pelo Estado.
Sou apenas esclarecido e de uma época, em que professor sabia ler e escrever.
Então, esta narrativa é fictícia, fruto da minha imaginação.
Isso é hipocrisia???
Crônica Carioca (04) --------------- “By” Vic Dório
vicdoriosantos@gmail.com