CRÔNICA ( 15 ) DESCASCANDO ABACAXIS
DESCASCANDO ABACAXIS
No dia em que se comemora o descobrimento do Brasil, descobri algo muito interessante.
Quando se compra algum objeto em camelô, para que ele funcione bem, tem-se que comprar o camelô, também.
Só não dá para comprar o Sílvio, porque ele está fora de preço de mercado.
Ontem, depois de meia dúzia de chopes, comprei um descascador de abacaxis, fabricado em p.v.c. rígido, o qual, segundo o camelô, descascava, fatiava e tirava o talo duro do miolo.
Era tudo o que eu queria!
Tudo isso me foi mostrado e todos que estavam comigo concordaram, que seria uma excelente compra.
Um descascador custava R$ 10,00 e dois, custavam R$ 15,00, porém, ninguém quis aproveitar a oferta.
O meu entusiasmo era tanto, que fui ao mercado para comprar alguns abacaxis, a fim de usar o tal objeto, imediatamente.
Feito isto, fui para casa. Lá, abri uma garrafa de vinho tinto e derramei o conteúdo em um recipiente de inox, para mergulhar as fatias de abacaxis; isto é uma tradição lusitana.
Talvez, a minha intenção fosse compartilhar abacaxis com os amigos. Porém, cheguei a conclusão de que ninguém quer descascar e muito menos compartilhar abacaxis de ninguém.
Quando comecei a manusear o descascador, ele quebrou.
A frustração foi tanta, que joguei tudo fora.
Descobri que não se pode descascar abacaxis com objetos de p.v.c. rígido. Eles terão que ser descascados com otimismo e perseverança.
Mas os camelôs não vendem essas coisas; nem mesmo o Sílvio. Ele vende carnês, incentivando o otimismo e a perseverança dos outros, em benefício próprio.
Então, só depende de nós mesmos.
Estou tentando descascar alguns abacaxis, mas não está sendo nada fácil. Não sei se vou conseguir descascá-los.
Talvez, tenha que procurar o “descascador ideal”, lá na rua dos Inválidos, antes que a loja mude de endereço.
Crônica Carioca (14) --------------- “By” Vic Dório